A alimentação mediterrânica é considerada uma das mais saudáveis do mundo, como demonstram inúmeros estudos científicos realizados nos últimos anos.
O seu extraordinário valor foi realçado pela primeira vez por Ancel Keys, um médico de Harvard, que observou uma estreita relação entre o consumo de gorduras e a incidência de doença coronária em diversos países, sendo esta tanto maior quanto mais elevado fosse o consumo de gordura. A exceção verificou-se apenas nos povos da bacia do Mediterrâneo que, apesar de terem um elevado consumo de gordura, sofriam relativamente poucos enfartes do miocárdio. Havia sobretudo uma grande diferença no tipo de gordura consumida que, no Mediterrâneo, era sobretudo gordura monoinsaturada (azeite).
Temos consciência que as diferenças culturais entre os povos e as regiões, incluindo os hábitos alimentares tendem a esbater-se inevitavelmente em todo o mundo, devido ao processo de globalização em curso.
Isso deve-se, por um lado, ao esforço para melhorar os hábitos alimentares dos países do Norte e Centro da Europa, assim como dos Estados Unidos da América, para fazer frente à pesada epidemia de mortes por doença coronária com que se debatem. Por outro lado, começa a haver uma tendência em Portugal e noutros países da Europa do Sul para recuperar e preservar os hábitos alimentares tradicionais mais saudáveis do passado.
A aprovação da dieta mediterrânica portuguesa como património mundial da humanidade pela UNESCO, para a qual os esforços desenvolvidos pela Fundação Portuguesa de Cardiologia foram um contributo essencial, desde a sensibilização inicial da comunidade e dos poderes públicos, até ao contributo no desenvolvimento do processo de candidatura.
Não devemos esquecer que a dieta mediterrânica deve ser integrada num estilo de vida saudável, para que em que em conjunto com o componente da atividade física regular, seja possível prevenir as epidemias de obesidade e a sua sequela consequente, a diabetes, que hoje estão aumentando dramaticamente em Portugal.
Por último, queremos salientar que os hábitos alimentares ancestrais da população portuguesa se podem associar a uma diminuição da doença cardiovascular e a uma esperança de vida mais longa, pelo que representam um modelo de referência que deve fazer parte integral dos nossos esforços para melhorar a saúde pública em Portugal.
Prof. Doutor Manuel Carrageta