A insuficiência cardíaca é uma doença que afeta cerca de 400,000 portugueses e está em franco aumento. É já hoje a principal causa de internamento hospitalar dos indivíduos com mais de 65 anos. Os principais motivos que estão a levar a este aumento são o envelhecimento da população, com as suas doenças associadas, como a hipertensão arterial e a epidemia de obesidade, que afeta negativamente todos os outros fatores de risco cardiovasculares.
O prognóstico da insuficiência cardíaca é sombrio, na medida em que somente cerca de metade dos doentes estão vivos cinco anos após o diagnóstico. A insuficiência cardíaca é responsável por 2 a 3 vezes mais mortes do que o cancro da mama e o cancro do cólon. Felizmente, o prognóstico tem melhorado muito, nos últimos anos, graças aos progressos no tratamento farmacológico e ao desenvolvimento de novos dispositivos médicos para apoio do coração.
Na insuficiência cardíaca o coração fica mais fraco, ou seja, tem menos força para fazer o sangue (que contém o oxigénio e os nutrientes), chegar aos diferentes órgãos e sistemas, em quantidade adequada para satisfazer as necessidades do organismo.
Para compensar, nuns casos, o coração dilata-se, noutros casos as paredes do ventrículo esquerdo tornam-se progressivamente mais espessas (aumenta a massa muscular) para ganhar força para impulsionar mais sangue. Estas alterações compensatórias ajudam durante algum tempo, mas progressivamente o músculo cardíaco vai-se degradando e perdendo a força.
Também os rins desempenham um papel importante nos mecanismos de compensação da insuficiência cardíaca, ao reter líquidos, sob a forma de água e sal, que ao aumentar o volume circulante, vão estimular o coração.
Com o tempo e o degradar da situação, os líquidos vão-se acumulando nos tornozelos, nas pernas, no fígado, nos pulmões, e por fim em todo o corpo, causando inchaço, falta de ar, cansaço e aumento de peso.
Por vezes, as pessoas mais idosas e os próprios médicos não valorizam estes sintomas, atribuindo-os ao processo de envelhecimento. Tal atitude resultante do desconhecimento ou até esquecimento desta patologia, leva ao atraso no diagnóstico e tratamento, com todos os inconvenientes inerentes, nomeadamente o risco de morte.
Apesar de alguns bons resultados obtidos em Portugal, é com frustração que reconhecemos que o controlo dos fatores de risco deveria ter melhorado um pouco mais nos últimos anos, o que se deve em grande medida ao facto dos fatores de risco serem essencialmente silenciosos. Por isso, tornam-se necessárias campanhas preventivas mais agressivas e melhor dirigidas. É imperioso aumentar os níveis de diagnóstico e de controlo.
Prof. Doutor Manuel Carrageta