O hábito de fumar ou até o uso mais lato de tabaco, mastigado ou usado das mais diversas maneiras, é um obstáculo de primeira linha à saúde pública. Até os ambientes com tabaco são ligados a riscos concretos para o bem-estar e a saúde, cada vez mais reconhecidos.
Se assim é, a desabituação tabágica constitui uma prioridade atual para a sociedade.
Como resolver este problema, sem violar a liberdade individual? A desabituação tabágica tem, por isso, de passar por uma ampla campanha, com verdade e transparência, de divulgar da forma mais convincente que não vale a pena começar a fumar, que isso pode ser mau para o fumador, mas que também para o ambiente coletivo e até para a interação social, quer no lar, quer no trabalho ou no lazer.
Só com atuação decidida, comprometida aos mais variados estratos da sociedade à qual afeta diariamente, esta desabituação terá êxito.
Que interessa convencer o fumador inveterado que tem de deixar por completo de fumar, se por outro lado se desenvolve a cultura da planta do tabaco, como interesse para a economia e o emprego, ou se se faz depender as receitas fiscais do imposto do tabaco (entre outros pesados impostos), ou se continua a tolerar-se a oferta de cigarros aos jovens, que iniciam o hábito, seja através da expectativa do desafio, ou da inclusão social no grupo de amigos, ou na discoteca ou em outros locais públicos?
Isto levanta muitas questões, como aquela de se dever esclarecer, apelar, comprometer ou proibir? Na questão do tabaco, que obviamente se liga a outros males (eu diria doenças) sociais, entre consumos, frustrações e dependências, coloca-se aqui a vontade, a liberdade e s responsabilidades de todo e cada um.
Não há outra volta a dar ao problema!
Devíamos começar por perguntar se queremos ou não ter saúde? E aqui não se trata de gastar mais ou menos, Serviço Nacional, mais enfermeiros, médicos ou psicólogos, mais ou menos campanhas, proibir máquinas dispensadoras de tabaco, ou lá o que seja.
Importa sim envolvimento de cada um. É cantor de rock ? – não passe uma imagem de fumador, ou vai influenciar milhares a fazê-lo. É treinador de futebol, jornalista, ou modelo de moda, sargento (chefiando jovens), pai ou professor? Quando fuma você arrasa os efeitos de qualquer campanha da nossa Fundação, ou qualquer Relatório Científico da Organização Mundial de Saúde ! Porque quem o vê fumar fica anestesiado por completo para os apelos do pessoal da saúde ou dos simples maços de tabaco que lá dizem Fumar Mata.
Aqui ninguém funciona sozinho – cada um tem os seus direitos, mas as responsabilidades são enormes e não são descartáveis.
Proibir socialmente? Quanto a mim sim, senhor, mas devagarinho, defendendo que, se o fazemos, é para nos defendermos da agressão, mas com espírito de compreensão e tolerância para com quem ainda não conseguiu eliminar a dependência ou o hábito. Como se faz ao aconselhar e orientar um amigo ou um filho. Com firmeza, mas com amor – seja lá isso o que vocês entenderem como tal.
Muita coisa, para além de proibir, e eu digo antes de proibir, deveríamos construir socialmente para conseguir parar a praga ou a epidemia do tabaco, e se calhar também de muitas outras.
Consultas de desabituação ou, como prefiro designar, de apoio ao fumador? Pois claro que sim, mas elas custam recursos, hoje tão escassos. Deveriam, também elas, ser organizadas com estratégia, sabendo que o seu custo é recompensado por ganhos enormes num futuro não muito longínquo, se bem que não se possa dizer que os seus efeitos são imediatos.
Atitude dos profissionais de saúde? De primeira linha de importância, mas todos eles, desde o clínico geral até ao farmacêutico ou ao cientista de investigação, passando por todos e em qualquer especialidade. Pois não afeta o tabaco todo o organismo e a mortalidade, em geral? Pois claro, e todos com responsabilidade igual.
5 As (como se fossem os quatro ases do baralho de cartas). Abordar a questão do tabaco em qualquer ato de saúde. Eh pá? Você ainda é dos que fumam? Avisar: Deixe de fumar, pela sua saúde (e já agora, pela dos outros cidadãos); Avaliar: Amigo, você acha-se capaz de deixar de fumar de vez? Ajudar: Vou até dar-lhe umas dicas, ou, Vou recomendar-lhe uma consulta de apoio … Acompanhar: Se você for capaz de deixar, passe por aí que a gente conversa um bocado de alternativas, ou sobre os problemas, sei lá, o que lhe puder ser de ajuda.
Essa é a base da intervenção desejável de qualquer profissional de saúde. Claro que implicam que haja empatia com o fumador, caso contrário … esqueçam.
Estas mesmas regras podem ser, no entanto, válidas para o amigo ou companheiro, que queira ajudar. Mas atenção, não passem ao ataque, sendo repetitivos e inconvenientes, caso contrário, com facilidade se vira o feitiço … , ou seja, o fumador violentado continua, ou passa a ser, um rabugento e enérgico defensor do seu mau hábito.
Terapêutica médica para ajudar o fumador que quer cessar de fumar? Existe, tem demonstrado eficácia duradoura, em muitos casos, mas não é este o local adequado para apresentar argumentação, vantagens e limitações à sua prescrição. Discute-se desde há muito a necessidade da sua comparticipação ampla pelo sistema de saúde. Deve ser prescrita por médico, pois de outro modo como se irão seguir as suas consequências no organismo? Mas o seu uso deve corresponder ao tempo perfeito, depois de se avaliar o candidato, de se pesar a sua motivação, de se obter a sua colaboração objetiva.
Se assim não for, a administração de meios terapêuticos, nomeadamente de fármacos, terá grandes possibilidades de falhar. Ou, tendo êxito, ficar sem se saber ao certo quando suspender o seu uso.
A terapêutica farmacológica do tabagismo é mais uma razão para se fomentar a consulta de apoio ao fumador, mas obviamente não é a única nem a primeira razão para a sua existência.
Será difícil a desabituação tabágica? Será o que declarámos acima uma valente utopia? Depende.
Depende sobretudo da sua atitude, seja você fumador ou não, estimado e paciente leitor.
Se quiser enriquecer os conceitos sobre “Desabituação tabágica”, perca um pouco mais de tempo e procure na Internet:
http://www.dgs.pt/upload/membro.id/ficheiros/i009309.pdf
Dr. José M. Reis Ferreira